No dia 29 de junho é celebrado o Dia do Pescador Artesanal, juntamente com o Dia de São Pedro, santo padroeiro desta classe de trabalhadores. Considerada uma das profissões mais antigas do mundo, é o pescador que ajuda com sua pesca no sustento diário de tantas pessoas no mundo. E quantos eles são? Aqui no Brasil, de acordo com dados do Registro Geral da Atividade Pesqueira (RGP), do Ministério da Pesca e Agricultura, há 1 milhão de credenciados.

Foto: Flávia Sasek
Senhores de uma cultura pesqueira e verdadeiros conhecedores da natureza, os pescadores artesanais são protagonistas dos projetos aqui no nosso Instituto Onda Azul. Para homenageá-los, vamos de prosa e verso e também falar sobre os desafios em suas carreiras, como o enfrentamento à ocupação urbana de seus territórios e o consequente aumento da poluição em lagos, rios e mares. Estima-se que cerca de 14 bilhões de toneladas de poluentes atinjam os oceanos, através de rios e mares, impactando direta e indiretamente o dia a dia da pesca.
De prosa e verso, relembremos a “Suíte do Pescador”, também conhecida como a “Canção de Partida”, composta em 1957 por Dorival Caymmi. Reconhecido como o hino dos pescadores de toda a costa brasileira, Caymmi versificou uma rotina: “Minha jangada vai sair pro mar, vou trabalhar, meu bem querer. Se Deus quiser quando eu voltar do mar, um peixe bom, eu vou trazer. Meus companheiros também vão voltar e a Deus do céu vamos agradecer”. No melhor dos mundos, pescar sempre um peixe bom e voltar do mar em mar tranquilo é um verdadeiro estado de bonança. Porém, muito além da geografia das adversidades naturais residem os desafios dos pescadores, que não são de hoje.
No estudo “Os Pescadores na História do Brasil”, publicado 1988 pela comissão Pastoral dos Pescadores, a história foi revisitada sob a coordenação de Luiz Geraldo Silva, entre 1500 e 1985. Lê-se que não é de agora que a poluição dos rios e mares pela indústria afetam os trabalhadores artesanais, tampouco não é de hoje que sofrem com especulação imobiliária que os expulsa de praias e margens de rio. A esses desafios somam-se outros que vêm afetando a saúde e qualidade de vida de muitos, conforme estudos e projetos como os que estamos realizando. Atualmente, o Instituto Onda Azul está na gestão de dois projetos socioambientais multi-institucionais, que têm o pescador e pescadora artesanal como foco.
O primeiro projeto, iniciado em agosto de 2022, é o ‘Uso Sustentável dos Sistemas Lagunares - USSL’. Realizado em parceria com a Petrobras, participam com o Instituto Onda Azul, a Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), as empresas privadas Cardume Socioambiental e Comunicação e o Instituto “Planett”, bem como as Associações dos Pescadores Artesanais da Praia da Baleia (São Pedro da Aldeia), dos Pescadores do Bairro de Itapeba (Marica), Colônia Z-4 (Cabo Frio) e Colônia Z-24 (Saquarema).
O segundo, iniciado em fevereiro de 2023, é o ‘Projeto Novos Mestres’. Realizado com apoio do Fundo Brasileiro de Biodiversidade - Funbio, o Instituto Onda Azul conta neste projeto, para desenvolvimento, com o Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), das Associação de Pescadores Artesanais da Praia da Baleia (São Pedro da Aldeia) e de Jaconé (Saquarema) e das Colônias Z-4 (Cabo Frio), Colônia Z-24 (Saquarema) e Z-28 (Araruama).
A promoção do ‘Uso Sustentável dos Sistemas Lagunares’ é realizada em projeto de mesmo nome por equipe multidisciplinar, visando o fortalecimento da atividade pesqueira e o desenvolvimento social e econômico das comunidades locais. E no eixo de pesquisa a ‘Pesca Sustentável e Qualidade de Vida’, através da escuta da pesquisadora Rosane Boechat, informações sobre a qualidade de vida dos pescadores foram levantadas. “Eles relatam que a pesca é incerta e nem sempre o peixe está disponível. Há dias em que a produção é boa e em outros nem tanto, além do fato que o valor do pescado no mercado é relativamente baixo em relação ao trabalho exigido na captura”, informa doutora Rosane.
Assim como no estudo “Os Pescadores na História do Brasil”, a pesquisadora também constata que muitos pescadores e pescadoras ingressam na atividade muito cedo, em torno de nove anos de idade, ajudando pais e avós na função pesqueira. Expostos às intempéries da natureza (sol, chuva, vento), envelhecem precocemente. Doenças como o câncer de pele tem causado a morte prematura de pescadores. Apesar da produção significativa de pescado, vindo dessas lagoas costeiras, pescadores e pescadoras lagunares são ainda praticamente invisíveis ao poder público e a sociedade, que pouco valoriza esta atividade. Uma escuta ativa é ferramenta importante no auxílio à condução dos diálogos, que permeiam as demais ações do projeto, para assim trabalhar a mais valia desses profissionais.
Jogar luz em cima dessa questão, é uma oportunidade do segundo projeto com gestão do Instituto Onda Azul e parceiros; o “Novos Mestres: Autonomia a bordo e a multiplicação de saberes da arte de construção artesanal e manutenção de barcos de pesca lagunar”. Com o objetivo de fortalecer a cultura e a arte da pesca artesanal por meio da produção material de embarcações utilizadas nas pescarias artesanais, pelos próximos 20 meses, pescadores artesanais de cinco comunidades tradicionais (Araruama - Hospício; Saquarema - Jaconé e Mombaça; São Pedro da Aldeia - Baleia; e Cabo Frio - Siqueira) do estado do Rio de Janeiro, RJ serão capacitados.
André Cavalcanti, coordenador técnico de educação ambiental dos ‘Novos Mestres’, acredita que, com os cursos de manutenção de carpintaria e mecânica náuticas, pescadoras e pescadores além de sentirem-se mais valorizados, estão sendo motivados a valorizar e proteger a arte artesanal de construção de embarcações, que vinha sendo abandonada. E ressalta que a pesca artesanal é uma atividade protegida pela legislação, definida pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação como uma atividade extrativista, portanto precisa ser protegida tão quanto a própria natureza e seus pescadores. Natureza, qualidade ambiental onde a pesca e o meio ambiente caminham junto na sustentabilidade que tanto precisamos.
Para saber mais sobre os projetos ‘Uso Sustentável do Sistemas Lagunares’ e o ‘Novos Mestres’, navegue aqui no nosso site, no nosso canal do “Youtube” e nos perfis do Instagram @institutoondaazul @projeto.ussl @projetonovosmestres